Ana de Castro Osório
- Em 20 Março, 2017
Durante o mês de março, mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, serão publicadas breves biografias de mulheres portuguesas cujo trabalho pela conquista de direitos sociais, políticos e cívicos para as mulheres merece que as rememoremos. São muitos os nomes que poderiam figurar nesta lista, mas os escolhidos são os que constam de uma coleção da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, a coleção Fio de ariana. Esta semana, a biografia é a de Ana de Castro Osório.
Ana Osório de Castro em 1872, nasceu, cresceu e viveu até à idade adulta em Mangualde. Viria a adotar o nome de Ana de Castro Osório (trocando os apelidos) na sua vida pessoal e enquanto publicista e autora.
A 10 de março de 1898 casou com Francisco Gomes Paulino de Oliveira, poeta, propagandista republicano e fundador de jornais. O matrimónio com Francisco Gomes Paulino de Oliveira terá contribuído para acentuar a dedicação de Ana de Castro Osório à escrita e o espoletar da sua intervenção cívica e política. Fixam residência em Setúbal e o nome de Ana de Castro Osório é indissociável desta cidade sadina porque foi a qui que forjou a sua identidade e se fez escritora e cidadã.
A constatação do atraso em que as mulheres viviam no início do século XX, sem direitos políticos, menorizadas pelo Código Civil, sujeitas às tutelas dos pais e maridos, confinadas ao papel de esposas, mães, irmãs ou filhas e engrossando a taxa de analfabetismos, encaminhou Ana de Castro Osório para a reivindicação de direitos para o sexo feminino, tornando-a feminista. O jornal O Mundo viria a declará-la, em 1909, como “a mais ilustre intérprete do feminismo democrático em Portugal”.
Em 1905, publicou Às Mulheres Portuguesas, considerado por Regina Tavares da Silva, “o manifesto do movimento feminista português”, ao abordar, “de forma muito clara e radical questões relacionadas, por um lado, com a situação da mulher, o seu estatuto legal e os condicionalismos culturais inerentes e, por outro lado, questões de índole mais teórica, sobre o feminismos, a igualdade dos sexos, o direito à educação e ao trabalho, o direito a salário igual.
A implantação da República evidenciou uma Ana de Castro Osório em transição do feminismo republicano para o sufragista, centrado no voto restrito para as mulheres, o qual ganhou espaço nas petições da Liga Republicana da Mulheres Portuguesas (LRMP) e reforçou-se através da Associação de Propaganda Feminista (APF).
A 26 de outubro de 1910, apresentou, em assembleia-geral da LRMP uma extensa representação contendo as aspirações femininas que desejava ver concretizadas pela República: revisão do Código Civil, na parte que respeita à mulher, tanto na família como na sociedade; Lei do Divórcio; voto feminino restrito; direito de eleger e ser elegível para os cargos municipais; desempenho de funções na Assistência Pública; abolição das leis que proíbem à mulher determinadas carreiras; legal concorrência com os homens no acesso aos lugares superiores; fim da legalização da prostituição.
O desencadear da Guerra fez emergir a sua última fase feminista, a de feminista nacionalista, cuja prioridade era a defesa da intervenção do país ao lados d s Alisados e o apoio aos soldados mobilizados, o que será feito através da APF, da criação, em finais de 1914 da Comissão Feminina pela Pátria e, a partir de março de 1916, da Cruzada das Mulheres Portuguesas, criada com Elzira Dantas Machado. À medida que se empenhava na Cruzada, também sobressaía a desilusão com o novo regime, por não se ver reconhecida pela República e pelo rumo que tomava. A rutura consolidou – se no início da década de 20, com a aproximação de Ana de Castro Osório ao Estado Novo, regime que acabou com a 1.ª República. E o feminismo, de que fora uma lúcida e ativa porta-voz, esbateu-se.
Não obstante a sua última fase, foi durante quase quatro décadas, uma cidadã interveniente, reconhecida pelos contemporâneos, pelos seus discursos, pela colaboração em dezenas de periódicos e pela liderança de organizações femininas e feministas dos início do século XX. Faleceu a 23 de março de 1935.
(Excertos da obra “Ana de Castro Osório (1872-1935)”, de João Esteves, Coleção Fio de ariana, Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Lisboa, 2014)
0 Comments