Carolina Beatriz Ângelo
- Em 9 Março, 2017
Célebre por ter sido a primeira mulher que votou em Portugal, Carolina Beatriz Ângelo nasceu na Guarda em 1878, filha de Viriato António Ângelo e de Emília Barreto Ângelo.
Na mesma cidade frequentou o Liceu, tendo depois prosseguido estudos durante dois anos na Escola Politécnica e cinco na Escola Médica de Lisboa, onde se licenciou no ano de 1902. No mesmo ano contraiu matrimónio com o Dr. Januário Barreto, seu primo, também médico e ativista republicano.
Não obstante a oposição familiar ao exercício da cirurgia, foi pioneira nesta atividade, tendo-se dedicado mais tarde à especialidade de ginecologia e prosseguido com entusiasmo uma intensa atividade profissional. A par desta destacou-se como ativista republicana e militante feminista lutando pela melhoria de estatuto legal e social das mulheres e, designadamente, pelo direito de voto. Em 1907 integra o Grupo Português de Estudos Feministas, com outras feministas notáveis, designadamente Ana de Castro Osório, Adelaide Cabete e Maria Veleda, numa militância que continuará no ano seguinte. Pretendia o Grupo difundir os ideais feministas, designadamente através da palavra escrita em pequenas brochuras de propaganda empenhada.
É, porém, na Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, e posteriormente na Associação de Propaganda Feminista, que Carolina Beatriz Ângelo virá a desempenhar um papel fundamental. Lançada a Liga em meados de 1908 por iniciativa de dirigentes do movimento republicano virá a oficializar-se e a consolidar-se no início do ano seguinte, com a primeira assembleia-geral, aprovação de estatutos e eleição de corpos gerentes. Carolina Beatriz Ângelo é eleita Vice-Presidente em 1910, e de novo no ano seguinte, e a ela viria a competir a liderança e representação da organização em várias iniciativas, bem como em esforços conjuntos de propaganda e sensibilização a favor da educação e instrução das mulheres nos princípios democráticos e da revisão das leis que tocam aos seus direitos e à proteção das crianças, objetivos primeiros da organização, em que se inscreve também o acesso das mulheres ao voto.
Após a implantação da República, mantém contactos com a classe dirigente. Em 1911 , faz parte da delegação que apresenta ao Presidente do Governo Provisório, Dr. Teófilo Braga, uma Representação sobre vários aspetos da situação das mulheres portuguesas, incluindo a questão do voto. Apesar de existirem várias promessas no sentido de alargar o direito de voto às mulheres, a publicação da nova Lei Eleitoral em março de 1911 revela-se uma grande deceção já que a mesma dispunha que eram eleitores os cidadãos maiores de 21 anos, sabendo ler e escrever e sendo chefes de família.
Carolina Beatriz Ângelo, viúva desde 1910, requer a sua inscrição nos cadernos eleitorais em março de 1911, argumentando que por ser viúva e mãe, é ela a chefe de família. A inscrição é recusada mas Carolina Beatriz Ângelo apresenta recurso em tribunal, que lhe reconhece esse direito. A 28 de maio de 1911, Carolina Beatriz Ângelo torna-se a primeira mulher a votar para a Assembleia Constituinte. Em outubro de 1911 Carolina Beatriz Ângelo morre de ataque cardíaco ao regressar uma noite a casa, vinda de uma reunião da Associação de Propaganda Feminista.
O nome de Carolina Beatriz Ângelo fica assim vinculado ao direito de voto, e sendo essa a sua luta particular, e por ela é especialmente conhecida, outras áreas há em que a sua voz e a sua ação se foram fazendo ouvir e sentir. Igualdade de salários, ocupação de certos cargos públicos, assistência pública, proteção à infância, são apenas alguns exemplos.
(Excertos da obra “Carolina Beatriz Ângelo (1878-1911)”, de Maria Regina Tavares da Silva, Coleção Fio de ariana, Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Lisboa, 2013)
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